quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Solar e Bethel: os Revindos

Posted by Ismael Rocha on 13:36:00 in , | No comments
Raval não conseguia ficar parado. Ele dava mil voltas ansioso como se fosse uma criança esperando o Nataw. A diferença é que desta vez, era ele e só ele quem "fabricaria" o seu próprio presente...


Ele não sabia por onde começar e estava com a cabeça girando presa em um grande caos. Os sentimentos se misturavam no seu cérebro. A euforia cedia o seu lugar ao medo da decepção e, em seguida, ao medo do fracasso. E se ele não conseguisse? E se, ao contrário da sua mãe, ele não tivesse herdado isso? Ele ficaria tão decepcionado... E ela, não quero nem falar...
"Não, NÃO! Pare com isso, Raval!", ele gritava e segurava a cabeça com as suas mãos como que para enxotar os pensamentos negativos do seu espírito.
Ele já tinha visto a sua mãe fazer isso tantas vezes antes. Escondido atrás da porta, analisando cada geste e trejeito através do buraco da fechadura. A cada vez, ele se sentia tomado. Até mesmo maravilhado. Ela era tão talentosa... Ou seja, não havia nenhuma razão para que ele não fosse como ela também.
O seu "laboratório" estava pronto. Mais pronto do que ele para dizer a verdade... Pela quinta vez consecutiva, ele enumerou tudo o que deveria ter perto de si, inclusive algo para se defender caso necessário...
"Crânio de Chafer: OK; cartas divinatórias: OK; velas: OK; capacete antiprojeção: OK; camisa de força: OK; spray de pimenta: OK; cinto de Solar: OK; cetro de Bethel: OK."
Raval tirou um pequeno cofre de madeira ornamentada do alto de um armário e o abriu:
"E o mais importante... Os corações lívidos..."
Dois artefatos esculpidos em formato de corações negros repousavam no fundo do cofre banhados por uma luz leitosa.
Raval deu um grande gole de frigovinho para criar coragem. Ele esfregava as mãos energeticamente.
"Vamos, chegou a hora de trabalhar!"
Ele retirou delicadamente os dois corações lívidos do cofre e os posicionou sobre um recipiente feito de madeira de Arvraknídeo sombrio que estava no chão. Depois, ele removeu o tecido de seda de Arakne que os cobria. Os artefatos emitiam uma luz pálida muito intensa, tanto que Raval, cego pela luz, precisou cobrir os seus olhos com o antebraço.
Ele cobriu a sua cabeça com um véu opaco para bloquear a luz, mas não muito escuro para que ele pudesse ficar de olho no que estava ao ponto de criar... Depois ele colocou uma almofada no chão a alguns metros da área do ritual e se sentou com as pernas cruzadas.
Os batimentos do seu coração rompiam o silêncio ensurdecedor que reinava no salão. O seu coração batia forte contra o seu peito como se quisesse sair. Raval fechou os olhos e se concentrou na sua respiração para tentar se acalmar. Uma respiração lenta e profunda... Quando ele se sentiu mais relaxado, ele decidiu passar à ação.
Ele reabriu os olhos e olhou fixamente os dois corações lívidos. Os seus lábios se entreabriram e balbuciaram alguns sons estranhos. Enquanto ele destilava um fluxo continuo de palavras com o maxilar cerrado, um dos artefatos começou a cintilar um pouco mais. Em seguida, foi a vez do outro. Uma aura se formou ao redor deles. Ela desaparecia e retornava como se palpitasse. Primeiro lentamente, depois ficando cada vez mais rápido. Cada coração começou a emanar uma fumaça negra e, em seguida, deram a impressão de explodir brevemente, o que fez com que Raval saltasse de susto. Entretanto ele não parava de recitar os seus encantamentos. O chão tremia. Uma segunda explosão. Desta vez mais forte. A fumaça tomou todo o salão.
Raval não conseguia mais ver nada a um metro de distância dele, mas agora ele distinguia uma forma através da espessa nuvem de fumaça que o separava dos artefatos. O seu coração voltou a cavalgar em disparada. Mas desta vez, ele se deixou levar pela agitação misturada com angustia. Ele estava vivendo o momento com o qual sonhava há anos. Com este pensamento, Raval deu um sorriso. De repente, a forma fluida se partiu ao meio e deu lugar a duas silhuetas de contornos mais definidos. Finalmente! Aí estão!
Raval removeu o véu que cobria o seu rosto, se levantou e recuou, enquanto as duas formas avançavam em sua direção.  
"Estão vivos! ESTÃO VIVOS!", ele exclamou.  
A cortina de fumaça se evaporava pouco a pouco, revelando as duas "criaturas" às quais Raval tinha dado a vida. Depois da emoção, o medo o tomou novamente.
"Na verdade, não totalmente."
Parecendo mortos-vivos, Solar e Bethel estavam diante dele. Colossais. Mais impressionantes do que nunca tinham sido. Eles não eram mais exatamente como foram no passado. Não estavam "intactos"... Mas Raval já sabia disso. Ele não acreditava que o renascimento deles os deixaria ilesos. A morte passou por aqui. Mas Raval e a sua mãe souberam ser mais fortes do que ela.
Apesar de tudo, Solar e Bethel eram facilmente reconhecíveis. Alguns indícios aqui e acolá não deixavam dúvida. O antigo protetor de Javian e o feiticeiro Osamodas possuíam argumentos suficientes para responder aos ataques dos deuses. Com guerreiros que voltaram do Além de tamanha envergadura ao seu lado, Raval já se via adulado pela Irmandade...

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