terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Os Kilorfs: raiva e ossos

Posted by Ismael Rocha on 10:50:00 in , | No comments

Eles existem desde as origens do Mundo dos Doze. Basta contemplar seus costumes para ter imediatamente uma visão precisa e viva da Idade Primitiva! A fé em Kilorf, o deus canino, foi restaurada e coloca-os no meio da aventura. Mas como explicar o retorno bestial do deus mais peludo depois de Ecaflip?


O vento varre as terras secas de Espetárida, levantando as cinzas, a poeira... e os pelos. Com o focinho orgulhosamente empinado, em cima de sua montaria, o guerreiro Kilorf espirra. Quando ele passa, os habitantes do local abaixam as orelhas. Atravessa o acampamento, constelação de cabanas feitas de ossos, lama e peles de animais esticadas, para avançar até uma escadaria imponente, ao pé de uma falésia. Lá no alto, uma brecha irregular revela-se ser a entrada do grande templo de Kilorf.


"Mããe! Mããe!» ladra o cãotatau. «É eeeele! Kalidar o Brador!"

Sob sua capa, o guerreiro o olha de cima a baixo com seus olhinhos pretos, duas cicatrizes têm como centro o olho esquerdo. Ele levanta o focinho e sua saudação é um rosnado grave.

«Ele rosnou pra mim, mãããe! Rosnou pra mim!»

Seus antebraços marcados por queimaduras rituais puxam as rédeas de seu Cicatorpe. Kalidar está diante da escadaria, ostentando com orgulho em torno do pescoço correntes e coleiras de dentes de kanigs, milobos e outros troolgloditas. De repente, começa a coçar atrás das orelhas freneticamente antes de mostrar a língua com um ar abobalhado. Logo em seguida, reajusta o capuz, sobe os degraus e entra no templo.


Alguns ferventes discípulos estão presentes: Álmatas, Ockers e ainda Oodles. Alguns uivam para a morte, outros rolam no chão, mas eles não o interessam. Adentra o santuário até os dois Bermanes que protegem a entrada. Com as línguas para fora, agitam-se, sacodem-se, enquanto jogam o jogo da bugalha com ossinhos. Mas erguem as orelhas ao Kalidar aproximar-se um pouco demais:

"O que você está fazendo Kalidar? grunhe o primeiro Kilorf de pelagem escura.
– Você bem sabe que nem todo mundo é digno de se aproximar do osso!" Late o segundo.

O guerreiro kilorf, que deveria ter um pelo alourado quando era apenas um cachorrinho, retira o capuz e tende-lhe um papel enrolado.

"Preciso ver o que me espera amanhã, no campo de batalha. Tenho uma autorização do Chefe da matilha..."

Um dos Bermanes arranca-lhe o papel das patas e finge que está lendo: "Não dá pra entender nada! Você acha que esses rabiscos vão nos cãovencer? Você está muito enganado se acha que estou acostumado a ficar com as “patas pro alto”!"

Não se sabe se Kalidar rosna ou sorri. Ele mostra-lhes o jogo de ossinhos no chão.
«Tinha certeza que isso não bastaria, mas vejo que vocês gostam de jogar. Aposto pelo acesso ao Osso do deus morte que lanço 7 vezes seguidas e perfeitas.»

Os dois Bermanes o olham com um olhar atravessado antes de caírem na gargalhada.

"É impossível! Mas se você quiser se humilhar, vá em frente!"

O Brador recolhe os ossinhos e os posiciona no dorso de sua pata. Lança-os e os recupera todos, posiciona-os de novo, relança, recupera todos, reposiciona, relança e recupera todos: isso tudo, seis vezes seguidas. Na sétima vez, recupera todos os ossinhos com a boca e começa a mastigá-los:

"NÃÃÃÃO!!! Meus ossinhos! Não faça isso!
– Agowa? Posho ent”ar?
– Pode, pode! Vá em frente! Mas só 5 minutos!
– Shete!
– OK, OK, sete…"

Kalidar cospe os ossinhos no chão e entra na grota.

"Tsc... Esse cachorro maldito teve sorte...
– Não foi sorte, estúpido. Foi perseverança."
















O recinto era sombrio. Um halo luminoso iluminava a relíquia sagrada: um osso gigantesco. Em sinal de respeito, Kalidar ajoelha-se, abaixa a cabeça e finge cavar com suas patas dianteiras. Em seguida, levanta-se. Ele avança até a parte fendida do objeto divino e olha profundamente no interior. Fecha então os olhos e pede em voz alta:

"Kilorf, guia-me! Se sou digno, revela-me o resultado do combate que disputarei amanhã com minha matilha contra esses covardes Kanigres!"

Kalidar o Brador arranca um pouco de medula do Osso e a devora. Espera. E espera mais. Suspira, de orelhas baixas.

"Não sou digno..."

Está quase saindo do recinto quando bruscamente seus olhinhos pretos convulsam-se e tornam-se inteiramente brancos. Tomado de espasmos, ele espuma e desmaia.

Alguns minutos mais tarde, os guardas bermanes o chamam:

"Ei! Pata-quente! Seu tempo acabou!"

Silêncio total.

"Ei!! Tá me ouvindo?!
– Ouço perfeitamente. Nunca ouvi tão perfeitamente. Nem nunca tive um faro tão preciso. Minha vista nunca foi tão clara, tão nítida.
– O que está acontecendo com você? Isso é loucura ou raiva?"

Com o olhar vivo, o pelo eriçado, Kalidar o Brador aparece na soleira da porta que leva ao Osso.

"Kilorf me deu uma ordem. E como sou um bom discípulo, obedecerei de olhos fechados. Ele guiará meus passos, dirigirá minha espada, minhas presas e minhas garras. Hoje, os Kilorfs estão perdidos, enfraquecidos, isolados. Amanhã, escaladarão montes e montanhas para uivar para a morte. SOMOS OS KILORFS! Somos feitos de raiva e de ossos e temos orgulho disso! Latam todos comigo: SOMOS OS KILORFS! SOMOS FEITOS DE RAIVA E DE OSSO E TEMOS ORGULHO DISSO!"

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